A Experiência do Videoclipe: História e Estética - Parte I

Performance de Michael Jackson em "Thriller"
(C) 1982 MJJ Productions Inc
Inspirada na proposta de produzir um videoclipe musical a fim de ser avaliado no curso de Cinema e Audiovisual da UESB, tive a oportunidade de conhecer o livro "Videoclipe: O Elogio da Desarmonia", de Thiago Soares, que, segundo Angela Prysthon transita pelos meandros semiológicos do videoclipe, pela materialidade do seu objeto com rigor e métodos, mas não deixa de demonstrar a agudeza e o espírito da crítica cultural.


Baseado nos capítulos que li até então, do mesmo ("Constituintes da linguagem videoclíptica", "A construção das paisagens sonoras", "As imagens afetivas no videoclipe" e "Para analisar um videoclipe"), assim como em outras referências bibliográficas, pretendo explanar um pouco acerca da temática e contar um pouco sobre a experiência de produzir "Vai Que De Repente", o meu primeiro neste domínio estético.

Um pouco do contexto...

Em sentido original, a palavra "videoclipe" designa um filme curto e em suporte eletrônico (digital ou analógico) e, apesar do termo cunhado praticamente como sinônimo, o "videoclipe musical" é uma ramificação desta categoria cujos antecedentes remontam o cinema de vanguarda dos anos 1920 (Dziga Vertov - "O Homem com a Câmera" e Walther Ruttmann - "Berlim: Sinfonia da Metrópole"), que tentava articular a montagem com a música, produzindo efeitos, sensações e criando uma narrativa absolutamente descompromissada com a linearidade teatral e literária, presente em filmes como "O Gabinete do dr. Caligari", de Robert Wiene ou "O Fantasma da Ópera", do neozelandês Rupert Julian. Neste período, o american way of life populariza-se cada vez mais e as bandas de jazz encontram-se em crescente apreciação. Artistas como Chaplin e Greta Garbo se consagram e é fundada a Metro-Goldwin Mayer.

Links disponíveis para assisto-los:

Valendo à pena conferir também:

No mesmo ano em que "Berlim: Sinfonia da Metrópole" é lançado, inicia-se a "Era do Cinema Sonoro" (ou seja, do som sincronizado e emitido através do próprio equipamento, uma vez que já era comum pianistas tocarem durantes as projeções). É lançando, assim, "O Cantor de Jazz", provocando grandes transformações nos hábitos e fazeres cinematográficos. No entanto, a grande influência estética dos atuais videoclipes está mesmo à mérito daqueles citados primeiro: Vertov e Ruttmann, para os quais, foi concebida uma nova construção diegética, absorvida posteriormente, pela geração dos anos 50 (algumas fontes consideram como o primeiro clipe já produzido para fins comerciais o "Jailhouse Rock", de Elvis Presley) e amplamente utilizada, principalmente, a partir dos 60, através da banda The Beatles, que produziam clipes para serem exibidos já na televisão.



Vista inferior de um videotape com
 a sua fita magnética exposta
A partir anos 70, uma inovação à vista: é o videotape (fitas magnéticas), que passa a ser largamente utilizado no registro das imagens televisivas, possibilitando a gravação prévia dos programas destinados às transmissões posteriores. Nos anos 80, os lares recebem o videocassete, permitindo a reprodução da experiência cinematográfica a poucos passos do sofá.


Em 1981, é lançada a Music Television (MTV), disseminando e colaborando na consolidação de novos gostos e estilos para uma geração "pós-moderna" possui dora de valores e ideologias bem diversos àquelas gerações "envelhecidas". E, a partir de 1987 são introduzidos os lyric videos, ou seja, os clipes com as letras das músicas inseridas, como forma de expansão da divulgação.

A Estética...

É desenvolvida, então, uma linguagem encarregada de articular as produções deste "novo" gênero que surge: o videoclipe musical, ou simplesmente, videoclipe. Caracterizada por planos curtos, justapostos e misturados, a montagem videoclíptica passa a ser concebida como "acelerada e fragmentada", apesar de tal caracterização não constituir necessariamente uma regra (uma vez que está exatamente na quebra dos cânones, a sua própria origem estética). E a narrativa, por sua vez (geralmente não-linear), possui elementos diversos, oníricos, ou não.

As causas, assim como as consequências de tais aspectos continuam a ser intensamente debatidos e pesquisados, a fim de articular a própria identidade dos povos, das culturas urbanas contemporâneas à construção de uma linguagem universalista, capaz de transpassar fronteiras, alcançar milhares e milhões de pessoas e, inclusive, influenciar outras mídias, como a televisão, o próprio cinema, o videoarte e a publicidade e os games, trazendo uma plasticidade imagética permeada de intensidade e dinamismo.

Referências:
>> ZUCOLOTTO, Juliana. “O Paradigma da Imagem”, in: Semiosfera, nº 3, Rio de Janeiro: ECO/UFRJ, 2002.
>> Keazor, Henry; Wübbena, Thorsten. In: Henry. Rewind, Play, Fast Forward: The Past, Present and Future of the Music Video. [S.l.]: transcript Verlag, 2010. p. 20. ISBN 383761185X
>> Buckley, David. R.E.M. | Fiction: An Alternative Biography. [S.l.]: Random House, 2012. p. 146. ISBN 1448132460