Como funcionava o conhecimento na Era Helenística?

Quais seriam os contextos e as motivações formadores dos maiores pensadores que o mundo já viu?

Saibamos, em primeira mão, que o termo "Helenístico" refere-se ao período da Grécia abrangente entre 1100 a.C e 146 a.C, quando ocorre a dominação romana. No entanto, é importante ter em mente que a história da Grécia remonta o Paleolítico, perpassando o Pré-Homérico e o Clássico. E, na então denominada "Grécia Antiga" (o conjunto destes períodos), em Atenas, quatro escolas foram consideradas principais: a Academia (Platão), o Liceu (Aristóteles), o Jardim (Epicuro) e a Stoa (Zenão). Existiam também o Ceticismo (Pirro) e o Cinismo (Diógenes), no entanto, não possuíam organização educacional e dogmas.

Cada qual, por sua vez, foi responsável pela a construção e/ou solidificação de um tipo de sabedoria. Contexto no qual a filosofia emerge, como um barco para este grande conjunto de saberes e, cuja missão seria o intento de amenizar a angústia e a miséria humana - neste sentido cada qual ofertará as suas causas próprias e possíveis soluções: para os estóicos, as desfunções ocorriam devido ao abuso do prazer e egoísmo; enquanto os cínicos creditavam tais mazelas às convenções e obrigações sociais, por exemplo.

A herança socrática constituiu um fator extremamente importante para balizar suas existências, uma vez que Sócrates foi o primeiro a admitir que os homens estão imersos na miséria e na angústia que, por sua vez, não estão nas coisas, mas nos juízos de valor que os seres humanos atribuem a elas. Logo, por mais distintas que fossem, atacavam os mesmo problemas inerentes ao ser humano e entrar numa delas não era apenas aderir intelectualmente a um determinado discurso filosófico: era mudar de vida. Naquele tempo, filosofar era escolher e pôr em prática determinado modo de viver e pensar, independente de desenvolver um discurso, como revela o texto promulgado pelos atenienses em 261 a.C. em honra de Zenão:

Observou-se que Zenão, filho de Mnaseas, de Citium, que por muitos anos viveu segundo a filosofia na cidade, não somente mostrou ser um homem bom em toda ocasião, mas, particularmente, por seus incentivos à virtude e à temperança, estimulou os jovens que procuravam entrar em sua escola para que tivessem a melhor conduta, oferecendo a todos o modelo de uma vida que sempre se harmonizava com os princípios que ensinava.

Ao meu ver, fazia bem mais sentido ir às aulas. E questiono: um dia possuiremos um sistema de educação tão eficiente quanto este, formador dos primeiros grandes pensadores do 'universo'?

Caso queria ler um pouco mais acerca de uma das escolas (a saber, Epicuro e o seu jardim), o texto introdutório do Victor Costa pode ser uma prazerosa introdução ao tema. E, queira ainda, avançar nos conceitos filosóficos de Epicuro, o artigo A Felicidade dos Prazeres, do mesmo autor, é ainda mais instigante.

Fonte:
"O que é filosofia antiga?", Pierre Hadot (Loyola)