As Bolinhas de Kusama

E quem, durante a infância, fugiu dos aleatórios desenhos de bolinhas numa papel qualquer? Quem, inclusive, nunca flagrou-se num, mais ou menos, obsessivo exercício de rabiscos, a bel imaginação infantil... adolescente... adulta... madura... madura... madura... agora.

É assim que Kusama alcança o universo. Esta dimensão ilibada, inexprimível... talvez parte de um delírio, de um desatino. Talvez os insanos somos nós... aonde estão as bolinhas que avistávamos durante a infância?

Como eu penso os Gêneros Literários - Uma Introdução


O caminho através do qual tenho buscado me situar acerca da existência - ou não -, ou pelo menos da consciência em torno do assunto, dos Gêneros Literários tem sido desafiador e, vale ressaltar!, como todo bom epílogo: extremamente complexo.

O Afeto pelo Desafeto

Gostar, saborear, sentir prazer em ver, ouvir, tocar, cheirar.
Quais são os componentes da personalidade que determinam os gostos de cada um?
Porque nos afetamos por determinadas experiências, circunstâncias, fatos?
Qual é a causa disto e o quê está relacionado à sua existência?
Amar, inclinar-se...
"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar", já dizia Saramago.
Oposto ou complemento de abominar, aborrecer-se, ter raiva, detestar...?
E se se gosta de desgostar?
E se o prazer do gostar está exatamente no não gostar de algo, de alguém...?
Constituiria, então, um gosto, ou um desgosto?
E se amar o desgosto for exatamente a verdadeira face de sentir o gosto?

Nietzsche, Mojica e Zé do Caixão

Zé do Caixão - um personagem tão forte no imaginário popular que funde-se à José Mojica Marins - ele nunca mais recuperaria o seu nome de batismo. Numa estratégia para fazer um cinema capaz de "encarar os próprios medos", o cineasta propõe um intrigante estilo (escatológico e sádico) que viria a compôr uma das peças do cinema trash dos anos 60.

Fruto de um pesadelo, no qual um "vulto" o teria arrastado ao seu próprio túmulo, Mojica concebe, em 1963, um personagem cujas unhas alongadas constituem um saudoso empréstimo do inesquecível Nosferatu e de quem o misterioso e sombrio estilo é fortemente inspirado no clássico Drácula. Zé do Caixão sacode os valores tradicionais e os critérios absolutos da sociedade. Niilista, desvaloriza a lógica e o porquê. Sedendo por um herdeiro perfeito, é capaz de atitudes absolutamente imorais, motivadas pela sua obsessão por sangue e, sobretudo, na crença de sua superioridade intelectual.

Como funcionava o conhecimento na Era Helenística?

Quais seriam os contextos e as motivações formadores dos maiores pensadores que o mundo já viu?

Saibamos, em primeira mão, que o termo "Helenístico" refere-se ao período da Grécia abrangente entre 1100 a.C e 146 a.C, quando ocorre a dominação romana. No entanto, é importante ter em mente que a história da Grécia remonta o Paleolítico, perpassando o Pré-Homérico e o Clássico. E, na então denominada "Grécia Antiga" (o conjunto destes períodos), em Atenas, quatro escolas foram consideradas principais: a Academia (Platão), o Liceu (Aristóteles), o Jardim (Epicuro) e a Stoa (Zenão). Existiam também o Ceticismo (Pirro) e o Cinismo (Diógenes), no entanto, não possuíam organização educacional e dogmas.

O que tem a ver o Dilema e o Silogismo?

Aristóteles cunha os termos em seus Analíticos anteriores, uma de suas obras mais importantes, na qual realiza diversas análises formais acerca de diversos argumentos. Nasce, assim, o Silogismo ou "Teoria da Lógica"... ironia do destino, ou não, considerado (a) um verdadeiro "dilema" por alguns estudiosos contemporâneos.

De maneira bastante sucinta, na lógica aristotélica uma proposição é um tipo particular de sentença que afirma ou nega um predicado de um sujeito (ou seja, o conteúdo pode ser tomado como verdadeiro ou falso). A natureza das proposições é altamente controversa entre filósofos, muitos dos quais são céticos sobre a existência de proposições. Muitos lógicos preferem evitar o uso do termo proposição em favor de usar sentença, pois diversas sentenças pois expressar a mesma proposição quando possuem o mesmo significado. Por exemplo, "A neve é branca" e "Snow's white" são sentenças diferentes, mas ambas dizem a mesma coisa, ou seja, expressam a mesma proposição.


Vauvenargues e a meritocracia

Referindo-se à Arte Poética de Horácio, declara, num tom aconselhável, o Marquês de Vauvenargues: leia este livro com calma; não é daqueles que a gente entende rápido.

Escritor e ensaísta francês de meados do século XVIII, ao aposentar-se da carreira militar devido às complicações físicas adquiridas durante uma campanha contra a Áustria, vê-se absolutamente deprimido e decide emergir num solitário aprofundamento intelectual. Lê, reflete, escreve e desenvolve uma Filosofia intensamente moralista, segundo a qual (bastante influenciado por Bayle e Espinosa), “Deus” não é o criador do universo, a fonte do bem e do mal, o guardião e o juiz do homem, ou o legislador divino que estabelece as regras de moralidade. É simplesmente a totalidade da natureza e suas leis inalteráreis. A moral, pois, é única e absolutamente construída pelo ser humano. É, ainda, o primeiro a afirmar a vontade de reabilitar o sentimento na literatura francesa.

O suspense Noir de Siodmak

Um dos maiores diretores de filmes Noir (são doze, no total - mais do que qualquer outro diretor que tenha trabalhado no gênero), tendo decolado a sua carreira principalmente durando a décadade 40, Robert Siodmak é considerado um especialista em suspense. 

Com a ascensão nazista, o então rapaz alemão, nascido em Dresden e de origem judia, forja a sua origem com a intenção de obter um visto e partir rumo à Paris, o que consegue, alegando ser um americano de Memphis.

O "sistema solar" cinematográfico

Marlon Brando, o "boy
magia" da década de 60
"Astros do cinema"...? Você conhece a origem do Star System ou Sistema de Estrelas hollywoodiano? Como foi cunhado o famoso termo que exprime claramente a distância e a intocabilidade dos mitos do cinema?

Nos primórdios das feituras (ainda bastante experimentais) cinematográficas (final do séc. XIX), os artistas não sentiam o mínimo prazer ao avistarem os seus nomes divulgados nas projeções. Não se identificarem era, portanto, uma maneira de "manter a reputação".

Andrei Rublev e a catarse de uma Rússia medieval

Anatoli Solonystin
 interpreta Rublev
Muito mais árduo despir-se revelando o prejulgamento do que o próprio corpo flácido. Conheçamos, pois, Andrei Rublev e seus contidos traços pastéis.

Não é consenso quando ele nasce e morre. Especulam os especialistas que tais ocasiões ocorreram, possivelmente, entre 1360 e 1427/30. Da mesma maneira, não é sabido o local de seu nascimento. No entanto, provavelmente viveu na Trindade Lavra de São Sérgio, um mosteiro localizado em Sergiyev Posad, próximo à Moscou, atualmente, o lar de mais de 300 monges. Naquele tempo, no entanto, recém fundado por um dos mais venerados santos russos, Sérgio de Radonezh, que construíra uma igreja de madeira em honra à Santíssima Trindade em Makovets Hill. 

A Experiência do Videoclipe: História e Estética - Parte I

Performance de Michael Jackson em "Thriller"
(C) 1982 MJJ Productions Inc
Inspirada na proposta de produzir um videoclipe musical a fim de ser avaliado no curso de Cinema e Audiovisual da UESB, tive a oportunidade de conhecer o livro "Videoclipe: O Elogio da Desarmonia", de Thiago Soares, que, segundo Angela Prysthon transita pelos meandros semiológicos do videoclipe, pela materialidade do seu objeto com rigor e métodos, mas não deixa de demonstrar a agudeza e o espírito da crítica cultural.


A Morfologia e a Sintaxe do Cinema

Visualizar significa transformar idéias (narrativas, temáticas ou formais) em imagens. 

Constituindo, pois, o cinema uma importante ferramenta de construção imagética, nada mais coerente que se metamorfoseie e seja capaz de agrupar uma série de técnicas e aspectos, ao passar do tempo. Tais apetrechos constituem uma "linguagem", ou seja, um modo, através do qual  se constitui determinada identidade artística.

Almeida Júnior no rastilho da viola...

Escrever tem sido um valioso estímulo para pesquisar novos temas e vislumbrar desconhecidas paragens.

Regressemos, pois, ao século 19 para conhecer um pouquinho mais acerca de um dos maiores pintores e desenhistas brasileiros e perceber o quão viva ainda é a sua obra? Com vocês, José Ferraz de Almeida Júnior. Ou, simplesmente, Almeida Júnior!

"Menos, mestre, menos..."

Que o Alto Renascimento é um período absolutamente apaixonante, principalmente no campo das artes, não restam dúvidas!

Dentre os maravilhosos mestres da pintura, Rafael tornou-se um dos meus preferidos. E não é difícil argumentar a seu favor: a suavidade do seu traço e o estilo do contorno são atributos estéticos absolutamente apaixonantes! Não bastassem tais dotes dignos de um grande artesão, o conceito engendrado em torno do seu trabalho torna tudo ainda mais instigante, principalmente para iniciados na História da Arte, como eu.

Um pouco mais sobre Anais Nin



Após o furdunço que provocara as Olimpíadas (pois os gregos insistiam que os jogos deveriam continuar em Atenas) sediadas na capital francesa, em 1900...

Três anos correm e nasce ali, numa pequena região da Ilha de França, Neuilly (lugar que acolheria o definhamento de grandes consciências, como Truffaut, Kandinsky, Bette Davis, Eça de Queirós...), Angela Anais Juana Antolina Rosa Edelmira Nin y Culmell. Novelista, crítica, ensaísta e contista, a vida de Anais é um fidedigno molde de uma autêntica subversão. E mostro o porquê!

Por que escrever?

Na tentativa de explanar um pouco mais acerca do tema, me deparei com o artigo "Por que escrever?", da Marizabel Santos Almeida e, eis que, como em toda boa leitura, mergulhei na fantástica aventura do desconhecido.

Quatorze páginas capazes de me presentear ilustres antepassados (Anais Nin, Bataille e Mallarmé, citando apenas alguns) e conceder um rumo na reflexão acerca da escrita.

A vontade de praticar a escrita

Se Clarice, n'Um Sopro de Vida, já anotou: "tenho vontade de escrever e não consigo (...); cá reconheço: sinto o mesmo. 

É claro, devo caminhar bastante para chegar à vontade d'ela  (que não devia ser pouca!). Mas, não somente para si, Clarice resguarda uma certa esperança: "(...) Há um livro em cada um de nós".